Olhai para as flores do campo, como crescem; não trabalham nem fiam

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Episódio_p23.1

(A minha filha Fernanda, do livro: Duas Horas)

Eu e Cássia Canguru nos sentamos sobre a cama de casal para ter uma conversa séria. A cama estava desarrumada até aquela hora da noite.
Não é possível começar uma conversa séria sem antes falar da cama. Não propriamente da cama. Da desarrumação. Da bagunça.
Eu estou cansada neste dia. Alegre, de bom humor.
Ela também.
Difícil começar uma conversa séria assim.
Ainda não paramos de falar da cama. Pior ainda, debaixo da cama.
Sabe como é, né... Uma coisa puxa a outra...
Debaixo da cama estava pior.
Passamos para o entorno. Quero dizer, em volta da cama, aqueles corredorzinhos estreitos entre a cama e as quatro paredes. Pior ainda. É complicado alcançar a cama antes das quinas da cama quando o quarto está arrumado. Quero dizer, desimpedido, quero dizer, que tem pelo menos um taco à vista. Pois é. Nesta hora não tinha.
Sinceramente, não dei conta da conversa séria. Tive uma crise de riso. Ela também. Só percebi que a crise acabou ao acordar de manhã com a cara na barriga dela e sua pernoca na minha cintura.
Vai explicar...
Há coisas que funcionam ao contrário.
A gente planeja de um jeito, sai de outro.
Isto é alma lavada. Conversa de espírito-de-não-porco.
Depois da risaiada cada dia ela se esforça mais.
Acho que o problema mesmo era riso entupido.
É que bagunça é engraçado mesmo.
Imagina?
A gente tropeçando em mil sapatos e não encontra um par para calçar?
Vai colocar soro nos olhos e coloca acetona? E o surf pelo caminho escorregadio de água pingada empoçada que leva do banheiro até onde está a sua toalha desde o banho de ontem.
E as minhas lapiseiras! Depois que tive a brilhante idéia de usar uma delas para ligar o telefone sem fio (explico: estragou o botãozinho do talk. Rasgou, soltou e sumiu. Descobri que a traseira da lapiseira fazia contato. Resolvido.) nunca mais vi as minhas lapiseiras. Passeavam pelo bidê, pia de cozinha, tanque, dentro de tênis, embolada com toalha de banho molhada. Comecei até a cismar com o feijão: será que a lapiseira vem pro meu prato?
É, não teve bronca. Teve riso. Tanto riso que, daí prá frente a bagunça perdeu a graça.
Vai explicar...

Nenhum comentário:

Postar um comentário


O inverno chegou enquanto eu saì para passear