Olhai para as flores do campo, como crescem; não trabalham nem fiam

domingo, 19 de julho de 2009

Folha 2: A Era do Plantador de Verdades

(Para o Ow, com afeto. Do livro: O Catador de folhas)

Era de solo virgem, fértil.
De homem na terra.
De plantio.
De vento, sol e chuva.
De rega, de arado.
De proteção, atenção, cuidado.
De colheita.
De casa enfeitada.
De buquê fresco
na mão da moça pelas mãos do moço,
na mão da noiva pelas mãos do gosto,
na mão da velha senhora
pelas mãos daqueles convivas,
inaugurando a festa.
...
Era de solo queimado, ainda fértil.
De homem na fábrica.
De voadas de pássaros.
De semeio.
De mais vento, mais sol e mais chuva.
De flor esparsa no campo.
De aranha tecendo
sobre os já tecidos.
Fios.
Tranças.
Finas redes treliçadas.
Era do ponto inicial.
Era de cada um dos pontos do meio.
Era do ponto final.
Deste tramo.
Aranha tecendo
sobre os já tecidos.
Quem passou não viu.
Quem parou não viu.
Quem não voltou não viu.

...
Era de abandono
até do olhar
que pela estrada reta cega
desmancha o redor.

Era de abandono
até do olhar
ao chão pés cansados,
à frente esperança,
atrás desconsolo.
Ao lado a terra, ainda fértil.
Lá estão cantando os pássaros,
pousados sobre as Sempre-Vivas.
Era de morte.
Era de vida.
De ervas.
Daninhas?

De aranha tecendo
sobre os já tecidos.
Nas casas, flores de plástico.
...
Onde estão os moços?
E as moças?
Onde está o gosto da noiva?
Ufa! Vejo os convivas.
E a velha senhora.
Ah!...
Sinto cheiro de mato!
E vejo a casa enfeitada.
De buquê fresco.
Quem colheu as Sempre-Vivas?
Foi o Plantador de Verdades.
Fios.
Tranças.
Finas redes treliçadas.
Esta velha senhora é fiandeira.
Casa limpa.
Sem aranhas.
O varredor veio prá festa.
Varreu e presenteou com as flores colhidas.
Chegou sorrindo,
montado em seu cavalo.
Olhei em seus olhos e então soube
como as nascentes brotam,

inaugurando a festa.

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